INTERNETÊS OU LINGUAGEM DE INTERNET

Análise de um diálogo cotidiano via MSN


Introdução:
A pesquisa visa analisar um diálogo sob a perspectiva do texto de Joaquim Mattoso Câmara Jr., retirado do livro Dispersos, na parte II capítulo 1: “Erros de escolares como sintomas de tendências lingüísticas no português do Rio de Janeiro”.Tal diálogo, foi retirado do MSN, que é característico por conversas práticas e imediatas do cotidiano das pessoas.

Dialogo:
Pedro diz:
voce diz não saber o que houve de errado ♫
• rê diz:
e o meu erro foi crer em estar do seu lado
bastaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaria ♪
Pedro diz:
\o\
AHUAHUAHUAHAUHA
teve show do paralamas aqui semana passada
e eu nao fui

HAUHAUAHUAHUAHAUH
• rê diz:
ouun
nao sabia que vc gostava tanto assim deles
Pedro diz:
nao gosto taaaanto
mas tipo
seria legal ir no show
e eu acho legal
meu primeiro show
foi do capital inicial
\o\
HAUAHUAHUAHUAHAUHA
eu tinha uns 12/13 anos
• rê diz:
olha soh
eu nao lembro qual foi o meu
• rê diz:
=O
meldels
hahahahaha
foi em Maringá?
Pedro diz:
AUHAUAHAUHAU
sim
o
\o*
• rê diz:
aeee
o//
Pedro diz:
ela diiiiiisse adeeeuss ♫
HUAHAUHAUHUHUAH
• rê diz:
essa eu nao sei cantar ://
Pedro diz:
sim
foda-se
eu nao sei cantar
e o hebert viana nao sabe andar
todos temos nossas limitações...
[/humor negro]
HUAAHUAHUAHUAHAUHAUAHUAHUAHAUHAUAHUAHUAHUAHAU
=P
• rê diz:
nossa, vc foi cruel agora ein
heey Pee, vou saindo. amanha a gnt conversa mais
Pedro diz:
por que tão cedo?
=/
• rê diz:
vou viajar amanha cedo
:/
Pedro diz:
ah
mas voce nao vai dirigindo, neh?
=/
HAUHAUAHUAHUAHUAH
• rê diz:
nao
hahaha
Pedro diz:
então
beleza
\o\
voce pode morrer de sono a viagem inteira
=/
• rê diz:
Siiim
Mas mesmo assim to saindo ... beijao e boa noite.
Pedro diz:
aeeee :/
boa viagem
boa noite. Beijooos


Análise do diálogo:
Sob a perspectiva do livro de Joaquim Mattoso Câmara Jr., do qual um capítulo já citado anteriormente será a base para análise. A pesquisa analisará um dialogo cotidiano através do MSN, característico por mensagens instantâneas pela internet em tempo real onde as pessoas se comunicam umas com as outras.
De início analisarei os dados do diálogo, sob a ótica da fonética, morfologia e da sintaxe, comentando e exemplificando-os.

Referente à fonética: nota-se uma oralidade caracterizando a escrita, inclusive com onomatopéias, com algumas expressões que imitam determinados sons, e expressões que se referem às risadas entre os interlocutores. Outra observações, foi em relação a omissão dos acentos, sobretudo os de sílabas tônicas que muitas vezes são substituídos pela letra H, como por exemplo, na expressão SÓ que tona-se SOH.Outro acento bastante omitido é o da palavra não, por exemplo, muitas vezes a estrutura da palavra é mantida e o acento retirado (NAO), ou a estrutura da palavra é modificada para NAUM, fazendo a escrita se referir ao som.E há muitas vezes uma repetição de determinada letra na palavra, como em “taaaaanto”, trazendo a idéia de uma entonação para os interlocutores, que assim imitam uma conversa sonora pessoalmente.

Referente à morfologia: nota-se uma escrita estritamente coloquial, sem o uso da normal culta da língua. Não há muitos registros de pontuação, o uso é marcado pelo mínimo possível, sendo que o mais usual é quando se faz uma pergunta, utilizando o ponto de interrogação. E omissão de formas pronominais, deixando a escrita mais concisa e com orações mais objetivas e simples.
Referente à sintaxe: notam-se omissões do pronome relativo que, perdendo sua função sintática, pois muitas orações são ligadas pelo pronome que; e há omissão da partícula se, quando deve ser corretamente usada sintaticamente.
Têm-se algumas orações invertidas, porém sintaticamente incorretas, quanto ao uso do sujeito e dos pronomes. E quanto aos sujeitos, há um assujeitamente nas orações, pois se tem a idéia de falante e ouvinte, então, não é necessário deixar o sujeito explicito em cada frase escrita.

Conclusões: o corpus examinado, uma conversa de MSN, tem como característica uma conversa informal baseada na língua portuguesa coloquial utilizada cotidianamente pelos brasileiros. Notam-se erros de caráter morfológico e sintático e de concordâncias verbais e nominais, sobretudo para uma comunicação há um entendimento de absolutamente tudo, o que os falantes queriam transmitir sob as palavras.

TEXTO: " Retrospectivas e Perspectivas da historiografia da Linguística no Brasil"

Este texto foi sugerido pelo professor Baronas,e após sua leitura era para elaborarmos seis questões para uma discussão em sala de aula .
Vale apena ressaltar também uma curiosidade sobre esse texto, que foi retirado da revista Estudos da Língua(gem) em 2005, organizado pelo Carlos Eduardo Falcão Uchôa em comemoração aos 100 aos de Mattoso Câmara Jr.

Questoês:

1. Segundo Mattoso Câmara " a lingüística é uma ciência muito nova [que] começou a existir na Europa em princípios do século XIX sob o aspecto de um estudo histórico", então a partir dessa descoberta quais as mudanças e estudos que ocorreram decorrentes de um pensamento tradicionalmente para o pensamento de um linguista?

2. A historiografia refere-se as metodologias e às práticas da escrita da história, então o que a historiografia linguística resgata em seus estudos, tendo o foco no Brasil ?

3. Sem ser as formas documentadas, como pode ser aferido o conhecimento da linguagem?

4. Qual a intervenção dos jesuítas nas línguas indígenas no Brasil ?

5. Segundo Mattoso Câmara podemos falar de uma lingüística brasileira?

6. Porque antes de Mattoso Câmara não existiu no Brasil um interesse em estudar uma linguística nacional, ou invéz de seguirmos as linhas americanas e européias de estudo?

QUESTÕES RESPONDIDAS !

Postarei aqui cinco questões respondidas sobre o texto: "Considerações sobre o gênero em Português" capítulo 7, do livro Dispersos de Joaquim Mattoso Câmara Jr.

1. Explique a seguinte afirmação de Mattoso Câmara Jr: "o gênero (...) não coincide necessariamente com a diretriz semântica do sexo, é perturbador e contraproducente tomar essa diretriz como ponto de partida para a descrição da categoria substantiva de gênero". (p 149)

Resposta: para a gramática tradicional há uma certa correspondência entre gênero e sexo, mas gera uma discrepância entre gênero "natural" e "gramatical"; e o gênero, mesmo para esses termos, correspondem somente a uma pequena porção do acervo de substantivos da língua

2. Para Mattoso Câmara Jr,o que é gênero feminino? Dê exemplos que fundamentem a sua resposta.

Resposta: O gênero feminino simboliza uma particularização mórfico-semântica do masculino,uma forma marcada pela adjunção da desinência /a/. O feminino é uma forma marcada e está em desinencia pela forma não marcada do masculino.Um exemplo é a palavra Lobo e Loba

3. Mattoso Câmara Jr, assevera que " não é a flexão do substantivo em princípio, a marca básica de seu gênero".Explique e exemplifique essa afirmação do linguísta brasileiro.

Resposta:A afirmação se leva em conta de que todos os substantivos do português tem um gênero determinado, dependente ou não do contexto.Para poder associar terminações com um dos dois gêneros nominais para estabelecer a proporção de masculinos e femininos em variadas estruturas com fins a uma previsão relativa, mas sem pressupor, em qualquer uma delas um índice morfológico de gênero.

4. No entendimento de Mattoso Câmara Jr, quais são dois aspectos básicos para se levar em conta no tratamento morfológico do gênero?

Resposta: O primeiro é a explicação do principio diretor da indicação do gênero: a flexão do artigo, acompanhada, ou não,de uma flexão no substantivo que o artigo, atual ou potencialmente determina. O segundo aspecto é o processo morfológico da flexão, que consiste na adjunção da desinência -a (/a/ átono final) com mudanças morfofonêmicas, que é preciso depreender e tabular.

5. Para Mattoso Câmara Jr o que é importante na descrição gramatical do gênero?

Resposta: O que é importante para Mattoso na descrição gramatical do gênero é a depreensão do seu principio diretor, assente na flexão de artigo, e o mecanismo flexional por que se expressa a categoria de gênero em português.

TEXTO: Mattoso Câmara e a Língua Oral

Leitura e discussão em sala de aula sobre o texto: Mattoso Câmara e a Língua Oral de Carlos Eduardo Falcão Uchôa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O texto procura contrastar a obra de Mattoso Câmara ao longo das décadas de 40, 50 e 60 com os estudos de lingüística no Brasil neste determinado período. O lingüista brasileiro inaugura novos rumos com a lingüística mas não deixa de romper com as principais linhas de pesquisas filológicas. Assim o interesse de Mattoso pela língua oral é destacado em oposição aos estudos filológicos, predominantemente identificados com a língua literária. Em sumo, o texto mostra a posição crítica de Mattoso sobre as relações entre língua falada e língua escrita no ensino do Português.

• Mattoso Câmara em 1948 foi o primeiro professor titular de lingüística na universidade brasileira (hoje em dia conhecida como UNB). Concluímos assim, que a lingüística é uma ciência extremamente nova.

• Mattoso continua seus estudos ao longo do tempo e não quebra paradigmas, na qual a ciência só muda quando não consegue mesmo mais explicar novas ocorrências.

• Nos anos 60 os estudos filológicos dominavam no Brasil, ou seja, ciência da linguagem dominante. O foco de análise principal, era a análise literária.

• Em seus estudos Mattoso, estudava a língua sob a perspectiva diacrônica e sincrônica, porém pensar na língua em uma perspectiva é negar a outra.

•Antenor Nascente: os falares dos Brasil (livro), tentou fazer uma primeira caracterização de como eram os falares no Brasil. Caracteriza o falar brasileiro, só que recebeu muitas críticas com relação ao falar de Minas Gerais, sendo considerado não característico.

COMO A LINHGUISTICA SE CONSTITUI NO BRASIL?

Diferentes concepções da história da lingüística:

•Historia Tradicional: parte da idéia de que os historiadores narram fatos reais que tem o homem como ator. A história se organiza por grandes eventos e passagens, voltando-se para a lingüística é pensar nos grandes acontecimentos dessa ciência.

•História das Mentalidades: trabalha com a idéia de que o mundo se organiza em determinadas épocas por crenças e valores.
A partir dos anos 50 o novo entra em detrimento com o antigo, ou seja, no Brasil, por exemplo, passam a investir no novo assim mudam a antiga capital carioca para Brasília que era nova. E essa mentalidade está muito presente na nossa sociedade hoje em dia. Na lingüística o estruturalismo sustento os estudos lingüísticos no Brasil em diferentes níveis fonéticos, morfológicos, sintático, semântico e pragmático.Nos anos 60 há uma quebra, com a substituição pelo gerativismo que anos mais tarde é substituído pelo funcionalismo.

•História das Idéias: resgata práticas visíveis ou os discursos conscientes. Conjunto de interpretação sustentando as práticas dos sujeitos. Conjunto de idéias que se confrontam, como no estruturalismo, tendo disputas e conflitos de idéias.

•Historiografia: é a maneira pela qual a história foi escrita; refere-se à metodologia e às práticas da escrita na história. É escrever sobre a história em si, sendo uma meta-historia.

LINGUISTICA NO BRASIL

Neste momento, esse blog será voltado para discussões acerca de Lingüística no Brasil. Uma matéria ministrada pelo professor Roberto Baronas na Universidade Federal de São Carlos.
Em nossa primeira aula, discutimos nossas expectativas em relação à disciplina Lingüística no Brasil neste primeiro semestre de 2010. Assim colocarei aqui alguns tópicos introdutórios de nossas discussões:

•Nossa língua ainda depende muito dos modelos europeus, apesar de estarmos no Brasil. Não deveríamos importar modelos, mas sim criar nossa Língua Latina Americana;

•Discutimos um pouco da passagem da instauração da Lingüística no Brasil, pensando em um ponto de vista historiográfico. E também lembrando que uma ciência é instaurada, vem de um paradigma que não conseguiu “resolver/responder” determinadas perguntas anteriormente;

•Pensar como uma língua se transforma ao longo do tempo;

E por último uma dica de leitura sugerida pelo professor de um livro, e que será a base de muita das nossas aulas também: Dispersos - Mattoso Câmara Jr. Nova edição revista e ampliada organizado por Carlos Eduardo Falcão Uchôa. Editora Lucerna, 2004.